AMADO BATISTA O CANTADOR DE HISTÓRIAS ( A PERDA )


A perda

 Era 1982, quando Amado Batista entrou em estúdio para gravar o vinil Sol Vermelho.

 Dona Joana era só orgulho do filhão famoso. Ela, que presenciou toda sua trajetória de vitórias e derrotas de Amado para chegar ao sucesso, não podia estar mais feliz. Ele tinha conseguindo.

 Tamanha era a alegria de mãe, que todos os dias, depois do sagrado almoço, ela colocava os discos de Amado Batista debaixo do braço e partia rumo à casa de suas amigas. Chegando lá, dona Joana colocava os vinis para tocar e passava a tarde inteira dançando com as amigas, ao som das canções de seu filho.

 Dona Joana tinha a pela clara, era baixinha e gordinha. Amiga, companheira, uma ótima mãe e esposa.
 Criou os filhos sob uma educação rígida e, por pior que fosse o problema que a família enfrentava, sempre trazia um sorriso estampado no rosto.

 Era uma criançona, adorava dançar e contar piadas e, na maioria das vezes, só de lembrar o que iria contar, já começava a rir e ria, ria, até não poder mais. Enquanto isso, seus filhos a olhavam com curiosidade, imaginando que anedota tão engraçada era aquela. Dona Joana era uma mulher alegre, divertida e pequenina, nascida e criada no Sertão, mas com uma força  interior que nem ela imaginava ter.

 Com o falecimento de seu Sebastião, ela passou a ser a figura principal da família. Passaram por dias cheios de lágrimas, mas agora novos tempos viriam, tempos de alegria.

 Apesar de estar doente, dona Joana mostrava-se radiante com a conquista de Amado. Certa vez, ela passou mal e uma pessoa próxima lhe deu água para beber. Dona Joana conseguiu se recuperar e, a partir daquele dia, passou a andar sempre com uma garrafa d água. Nunca mais abandonou o recipiente. Achava que a água que bebera quando passou mal a tinha salvado.

 Amado se preocupava com a mãe, mas tinha que continuar trabalhando. Enquanto produzia o disco, também gravava o filme Sol Vermelho. Nas telonas, foi a ator principal de sua própria história.

 O filme perdeu-se no tempo, a ponto de não ser encontrado em lugar algum.

 - Não levo jeito para atuar - disse Amado.
 - Nem gosto de me ver atuando porque não é o meu forte, mas como era a minha história, topei fazer e foi lega.

 Proto! Missão cumprida. Hora de tira féria. Amado passou em casa, pegou dona Joana e juntos foram descansar na fazenda Serenata. Mal sabia ele que uma tragédia estava prestes a devastar sua vida.

 Na manhã seguinte, Amado acordou bem cedo e foi até o quarto onde dormia dona Joana. Não pôde acreditar no que estava acontecendo.

 Sua mãe estava desacordada. Amado ficou desesperado, tentou acordá-la, mas não conseguiu e caiu em prantos. Por que com ele?

 Dona Joana faleceu em 1982, da mesma doença que levara seu marido: o mal de Chagas. Mas ela teve morte súbita, o que foi considerado incomum. O parasita destruiu o sistema condutor dos batimentos no coração.

 - Os médicos me disseram que o parasita, corroeu a veia orta dela, a veia apodreceu e não teve jeito, estourou - disse o cantor em tom sério com olhar longínquo e marejado.

 Após o falecimento de dona Joana, a vida perdeu o sentido para Amado. O cantor ficou recluso durante seis meses, cancelou todos os shows e voltou para a fazenda. Ficou sem saber o que fazer. Já tinha perdido o pai quando era moleque, agora com 30 anos, perdia a mãe.

Em breve mais postagens sobre essa história.