O fracasso
Desde pequeno, aquele garoto cabeludo tinha dois sonhos.
Quando chegou à capital, ficou maravilhado com que encontrou. Carros passando para lá para cá, parques de diversões, circo, lojas. Era um mundo novo não só para o jovem, mas para toda a famíla. Cartazes espalhados pela cidade, carros com alto-falantes anunciavam candidatos. Era ano de eleições e tudo aquilo era visto com olhos de espanto, fascínio e medo.
Vindo de um lugar pacato, onde carro era praticamente uma "lenda", Amado estava fascinado com o movimento da cidade grande. Frequentemente ele caminhava até a avenida Anhanguera, uma das principais alamedas de Goiânia, só para ficar olhando, durante horas. aqueles carros passarem, num indo e vindo infinito.
- Eu chegava a ficar tonto de tantos carros que passavam.
Quando não estava contando quantos carros passavam na avenida, Amado estava em casa estudando.
O garoto esforçado, que estudou até o quarto ano do primário em Itapuranga, agora se via obrigado a estudar ainda mais para fazer o teste de admissão e condeguir cursa as séries restantes na capital, fixou-se no objetivo, dedicou-se e passou.
Já nos primeiros dias letivos, ele percebeu que era diferente, era interiorano, Isso não passou despercibido pelos colgas de sala.
- Olha o caipira! - gritavam eles, em tom de deboche.
Amado não se deixou intimidar com o preconceito sofrido por vir do interior, falar tudo errado e ter sotaque carregado. Conseguiu seguir adiante com os estudos.
A vida para família Batista continuava muito difícil, mas Amado tinha uma ideia fixa: ser cantor.
Seu irmão Artênio até o incentivou e lhe deu outro instrumento, um violão. A certeza de que não poderia desistir de seu sonho veio nesse momento. Logo começou a dedilhar os primeiros acordes. Como não podia deixar de trabalhar e ajudar a família, Amado dividia o tempo entre os estudos, o trabalho e, agora, o violão.
Era nas horas vagas que ele pegava o instrumento, apoiava-o no colo, junto com um método de ensino - desses vendidos em banca de jornal - e treinava.
O sonhador só largava o violão na hora de ir trabalhar. Sua primeira experiência profissional foi em uma camisaria, como faxineiro; nessa loja, aprendeu a pregar botão, ofício que nunca mais esqueceu. Sentiu a necessidade de buscar algo melhor e resolveu sair de la´para trabalhar como balconista em uma loja de tecido. Foi lá que lhe ensinaram a ir ao banco e fazer depósitos, coisas de office-boy.
Amado já não era mais um garoto e, com a ajuda de alguns amigos, aprendeu a andar de bicicleta. O primeiro de seus sonhos foi realizado: sabia andar de bicicleta. Com suas economias, ele comprou uma.
Agora faltava o mais difícil, tornar-se um cantor famoso. Mas como farria isso?
- De onde eu vim - referindo-se às suas origens e condições finaceiras - não dava pra compra uma bicicleta, mas foi um dos primeiros veículos pelo qual me apaixonei e eu adoro andar de bicicleta - disse o cantor.
Como nada veio fácil em sua vida, ele precisou começar de baixo diversas vezes. Em 1967, Amado, então com 15 anos, mudou novamente de emprego e passou a trabalhar em uam famosa livraria de Goiânia, a Bazar Oió.
Enquanto fazia o colegial, o jovem trabalhava na livraria. Uma de sua obrigações era ler. Lia todos os livros que conseguia, decorou gêneros e as histórias das obras mais vendidas, para poder informar os clientes, quando solicitado. Nessa livraria, todas sextas-feiras havia lançamentos de publicações de grandes escritores nacionais e goianos. E foi no lançamento do livro Meu pé de laranja lima que Amado, já com 16 anos, conheceu José Mauro de Vasconcellos, autor da obra e uma das pessoas que o jovem rapaz admirava.
Em breve mais postagens sobre essa história.
Luciano Silva, Claúdio Costa compositor da música Amar, Amar